sábado, 29 de dezembro de 2012

O Viajante!


Um homem, tendo que fazer uma longa viagem, se preparou como melhor lhe convinha. Teria um longo caminho pela frente, quase cem anos, e neste tempo, enfrentaria muito sol, muita chuva, muito frio, enfim, inúmeros obstáculos. Achava que nada poderia detê-lo. Para a sua caminhada, tomou calçados, roupas, chapéu, enfim, tudo o que achava necessário.

E tudo era novo. 
Pensou em seu destino e em tudo de valor que achava possuir. Abriu sua mochila, e nela colocou tudo, calçado, roupa, chapéu, achando que se não os usasse no seu dia a dia, ao final, teria tudo ao seu dispor, quando quisesse. E novo.

Colocou tudo às costa, e partiu. Ao longo de sua vida, após varias trilhas, viu-se cansado e não pode mais continuar. Estava exausto. O peso as suas costas, com o seu tesouro, já lhe era insuportável. Seus pés, rachados e sangrando, seu corpo surrado e frágil, sua cabeça ferida e seu pensamento, sem direção. Olhou para os seus pés e para seu calçado. 
O sapato continuava novo, e seus pés, acabados.

Tomou a sua roupa nova e tocou o seu corpo velho e dolorido. Levantou o seu chapéu, novo, e tentou colocá-lo em sua cabeça inchada. Faltava muito para chegar ao topo, e tudo que possuía, novo, tal como preservou, de nada lhe servia agora. Pensou em abandonar tudo. Já havia abandonado no princípio.
Em silêncio, e pela primeira vez, concluiu que se tivesse utilizado o seu calçado, ele estaria velho, mas seus pés, doloridos, apenas. Se tivesse se vestido, sua roupa estaria rota, mas, seu corpo não estaria cansado e sujo. Se tivesse usado o seu chapéu, ele estaria com sua abas caídas, mas sua cabeça não estaria por estourar de dor.
Refletiu, e reconheceu que ali estavam os seus verdadeiros amigos. Para servi-lo, a todo instante, porém tentando somente preservá-los, não permitiu que eles participassem de sua vida. 

Lembre-se.

Os seus amigos não querem estar somente em uma mochila, como o calçado, a roupa, o chapéu, como um fardo.
 Querem é estar contigo, em toda a sua jornada, mesmo que cheguem desgastados, sujos, cansados, porém, certos de que, de algum modo, aliviaram a sua dor, seu sacrifício e participaram de sua alegria, e chegaram ao fim, todos juntos.




Rivalcir Liberato.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Do Despertar - Paulo Coelho!




- Tenho feito o melhor. Tenho procurado me esforçar para estar sempre ajudando meu próximo. Entretanto, ninguém parece me dar valor - disse o discípulo ao mestre.

Os dois foram até o campo. Ali, no meio do trigal imenso, havia uma papoula solitária.
- Para quem ela se mostra? - perguntou o mestre. - Para onde estão voltadas as suas pétalas?

- Para o céu - respondeu o discípulo. - Como é bela!
- Você dificilmente veria sua beleza no meio do trigal - disse o mestre. - Ela não pensa na admiração do viajante que passa ao acaso; está vivendo sua missão, que é ser uma papoula.
“Mas o sol a vê todos os dias, lhe dá sua luz generosa. Da mesma maneira, Deus vê os esforços do homem, e derrama suas bênçãos sobre ele”.
Autor: Paulo Coelho


quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

O Encanto Nosso de cada Dia - Autor Padre Fabio de Mello


Ainda bem que o tempo passa! Já imaginou o desespero que tomaria conta de nós se tivéssemos que suportar uma segunda feira eterna?
A beleza de cada dia só existe porque não é duradoura. Tudo o que é belo não pode ser aprisionado, porque aprisionar a beleza é uma forma de desintegrar a sua essência. Dizem que havia uma menina que se maravilhava todas as manhãs com a presença de um pássaro encantado. Ele pousava em sua janela e a presenteava com um canto que não durava mais que cinco minutos. A beleza era tão intensa que o canto a alimentava pelo resto do dia. Certa vez, ela resolveu armar uma armadilha para o pássaro encantado. Quando ele chegou, ela o capturou e o deixou preso na gaiola para que pudesse ouvir por mais tempo o seu canto. 
O grande problema é que a gaiola o entristeceu, e triste, deixou de cantar. 
Foi então que a menina descobriu que, o canto do pássaro só existia, porque ele era livre. O encanto estava justamente no fato de não o possuir. Livre, ele conseguia derramar na janela do quarto, a parcela de encanto que seria necessário, para que a menina pudesse suportar a vida. O encanto alivia a existência...Aprisionado, ela o possuia, mas não recebia dele o que ela considerava ser a sua maior riqueza: o canto!
Fico pensando que nem sempre sabemos recolher só encanto... Por vezes, insistimos em capturar o encantador, e então o matamos de tristeza.
Amar talvez seja isso: Ficar ao lado, mas sem possuir. Viver também. 
Precisamos descobrir, que há um encanto nosso de cada dia que só poderá ser descoberto, à medida em que nos empenharmos em não reter a vida.
Viver é exercício de desprendimento. É aventura de deixar que o tempo leve o que é dele, e que fique só o necessário para continuarmos as novas descobertas.
Há uma beleza escondida nas passagens... Vida antiga que se desdobra em novidades. Coisas velhas que se revestem de frescor. Basta que retiremos os obstáculos da passagem. Deixar a vida seguir. Não há tristeza que mereça ser eterna. Nem felicidade. Talvez seja por isso que o verbo dividir nos ajude tanto no momento em que precisamos entender o sentimento da tristeza e da alegria. Eles só são suportáveis à medida em que os dividimos...
E enquanto dividimos, eles passam, assim como tudo precisa passar.
Não se prenda ao acontecimento que agora parece ser definitivo. O tempo está passando... Uma redenção está sendo nutrida nessa hora...
Abra os olhos. Há encantos escondidos por toda parte. Presta atenção. São miúdos, mas constantes. Olhe para a janela de sua vida e perceba o pássaro encantado na sua história. Escute o que ele canta, mas não caia na tentação de querê-lo o tempo todo só pra você. Ele só é encantado porque você não o possui. 
E nisto consiste a beleza desse instante: o tempo está passando, mas o encanto que você pode recolher será o suficiente para esperar até amanhã, quando o passaro encantado, quando você menos imaginar, voltar a pousar na sua janela.¨


Padre Fábio de Melo